Excerto de um artigo escrito por Maria Fontaine
Preparando seus filhos para ficarem firmes nas suas convicções faz parte do trabalho de ajudá-los a crescer e amadurecer. Precisam lhes ensinar a tomar as decisões certas em diferentes situações, permitindo-lhes contato ou experiências que vão lhes ensinar lições de vida. Quanto mais cedo lhes ensinarem a discernir e tomar decisões certas por conta própria, mais seguros eles estarão, e melhor preparados para as decisões que só eles poderão tomar. Um exemplo prático disso é se a sua casa tem piscina. Talvez seja necessário construir uma cerca para evitar acidentes, mas também vai ensinar a criança a nadar, e, com o tempo, a nadar bem. A cerca, no início, é uma proteção, mas vocês também estão preparando a criança para saber entrar na água em segurança, ensinando-a a nadar. Não é possível passar essas lições de vida apenas na sala de aula. Essas “lições de vida” se aprendem ao longo dos anos. É preciso muita comunicação, diálogo e experiências para as crianças entenderem e crescerem nesses aspectos. Essas experiências e lições farão delas pessoas mais sábias, mais fortes, melhor preparadas, mais maduras, perceptivas e compreensivas, e lhes darão um preparo muito melhor para a vida. Experiência faz bem às crianças e as prepara para a vida, se vocês as ajudarem a aprender com elas. O que significa preparar nossos filhos para a vida? -- Significa avaliar como ajudá-los a passar pelas fases naturais de crescimento e desenvolvimento, vendo e sabendo o que outras crianças e jovens estão fazendo ou enfrentando, e os preparando para a ocasião quando talvez passem pela mesma coisa. Significa ensinar-lhes firmeza diante de dificuldades, e como abordarem situações novas com confiança e responsabilidade. Traduz-se em ensinar seus filhos a discernir o certo do errado, integridade, auto disciplina, convicção, amor, tolerância e força de caráter. Essas lições de vida são transmitidas aos seus filhos porque são elementos de um bom caráter, os quais ajudarão a determinar o padrão moral deles para o resto da vida. Essas lições aprendidas na infância formam o caráter da criança e vão ser bem úteis o resto da vida. Os pais são os principais professores, porque, ao transmitirem convicções e valores pessoais, estão ajudando seus filhos a encontrarem o rumo certo na vida. Vale a pena se empenharem ao máximo para ensinarem seus filhos a enfrentar os aspectos negativos ou questionáveis da sociedade, julgar o que é certo ou errado, e basear suas decisões e atos em uma ética e perspectiva cristãs. As crianças de hoje enfrentam muitas influências, e terão muitas outras no decorrer de suas vidas. Algumas serão positivas, outras negativas, e muitas estarão em algum ponto intermediário. Seria bom dedicarem um tempo para descobrirem o que os seus filhos estão passando. Poderiam pedir a opinião das pessoas com quem eles interagem. É muito melhor estarem preparados do que levarem um susto. E se dedicarem tempo, ponderarem e discutirem as possibilidades, poderão se preparar melhor para as diferentes situações que seus filhos venham a enfrentar no futuro, ou que já estão enfrentando. É completamente natural as crianças às vezes tomarem decisões não muito boas, ou erradas, porque estão experimentando e ainda aprendendo a colocar em prática o treinamento que lhes deram. Por isso, participar da vida delas e do contato com outras influências, cumprindo a sua responsabilidade de orientá-las e esclarecer suas dúvidas, e ajudá-las a tomar decisões acertadas lhes dará o treinamento “preparatório” constante. Vão estar lhes ensinando a viver, na prática, no dia a dia, a teoria sobre ética. Concentrar em ajudá-los a criar convicção pessoal, a tomar decisões acertadas mesmo no meio de pressão social negativa ou outras situações difíceis, e construir linhas de comunicação aberta para poderem guiá-los nas diferentes situações que irão vivenciar.
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![]() Michael G. Conner, Doutor em Psicologia, The Family News As crianças não só aprendem com o que fazem, mas também com o que vêem seus pais fazendo. É importante os pais entenderem isso, porque muitos deles têm altercações e conflitos na frente dos filhos. Considere o que vou dizer antes de discordar, argumentar ou começar uma discussão na frente dos seus filhos. Os vínculos emocionais entre pais e filhos fazem estes últimos reconhecer e adotar os valores, atitudes e comportamento dos pais. As crianças confiam, imitam e atentam nas pessoas com quem se relacionam de maneira mais íntima. Mas elas, ao contrário dos adultos, tendem a absorver a perspectiva dos pais diretamente, mesmo que com uma certa hesitação e sem experiência. O impacto psicológico de uma discussão entre os pais pode gerar incerteza, instabilidade emocional, comportamento imprevisível e hiperatividade nos filhos. Apesar de muitas crianças não serem afetadas por pequenas divergências, algumas são mais sensíveis e propensas a agir segundo seus pensamentos confusos. Como as crianças lidam com pontos de vista conflitantes entre os pais? A resposta é: “Elas não sabem lidar com isso direito.” O impacto das divergências e conflitos variam à medida que as crianças ficam mais velhas. Mas muitos pais não percebem que se os filhos os vêem discutindo e tendo divergências, vão começar a ignorar o que os pais desejam, seus valores e atitudes. A tendência delas é pensar, “Se os meus pais não concordam, acho que posso acreditar e fazer o que eu bem entender.” Quando os pais discutem na frente dos filhos, ambos perdem credibilidade. A conseqüência mais frustrante das divergências e conflitos entre os pais é que os filhos imitam a sua conduta. E não só isso, mas se tornam cada vez mais competitivos. Eles tentam ir além dos pais, aprendem a se expressar no mesmo tom de voz, volume e freqüência; o que explica por que tantas crianças acabam agindo exatamente como o pai ou mãe com quem têm dificuldades de relacionamento. Uma causa [principal] dos conflitos e divergências é o fato dos pais não discutirem como vão tratar os filhos antes de surgir a necessidade. Pouquíssimos pais conversam sobre como lidar com problemas — só quando se vêem diante de um problema. Uma abordagem pró-ativa ao trabalho de criar os filhos é muito mais eficaz do que reagir aos problemas impulsivamente. — Os pais não devem discutir questões relacionadas ao criar seus filhos na frente deles sem antes conversarem e já resolverem tudo isso em particular. Evitem expressar diante de uma criança que não concorda com a postura ou comentários de seu cônjuge. — Determinem uma abordagem que ambos vão apoiar. Não ajuda se concordam nisso para evitar uma discussão, mas depois um não apóia o outro. — Decidam o que vão esperar das crianças antes de elas levantarem questões que poderiam resultar em divergência ou conflito entre os pais. Adaptado de um artigo escrito por Maria Fontaine
Como pai seu dever inclui estabelecer regras e limites para ajudar seu filhos a tomar as decisões acertadas. Eles vão ter contato com coisas das quais você discorda, é um fato que você precisa aceitar e para o qual deve se preparar. Mas não significa que deve afrouxar sua convicção do que é ou não aceitável, ou achar que é inevitável e que você terá de baixar o padrão em questões importantes. * Todos os pais que se prezam estabelecem limites e ensinam seus filhos a segui-los. Se os pais quiserem criar os filhos com um padrão moral e de valores sadio, vão estabelecer limites. Esperar que os filhos sigam um certo padrão e determinar consequências caso não o façam é parte do trabalho dos pais. * Conforme a dinâmica da vida dos seus filhos mudar – seja porque fazem novas amizades, ou mudam de escola, ou entram em uma nova fase de desenvolvimento, você deve estar preparado para revisar suas regras e decidir quais são importantes e necessárias para a saúde, segurança e bem-estar espiritual deles, e quais deixaram de se aplicar. Precisa estar disposto a adaptar as regras ou diretrizes menos relevantes, mas ficar firme, ser realista e constante nas que são importantes. A meta é manter seus filhos seguros, mas ao mesmo tempo ser realista quanto ao seu grau de maturidade e o que pode esperar deles. É importante os limites serem realistas, pois ajuda as crianças a entenderem e verem que são necessários. Por exemplo, precisam entender que as regras existem para mantê-las seguras, ou saudáveis, ou para protegê-las de alguma forma. * Parte de preparar seus filhos para se tornarem adultos sensatos e confiantes, é deixá-los explorar o processo de tomada de decisões, orientá-los corretamente e confiar que vão tomar decisões de acordo com sua idade e dentro de limites aceitáveis. * Há certas maneiras de abordar questões que são importantes para você e eles que podem produzir uma experiência mais positiva. Alguns exemplos: responder com calma quando dizem algo que não tem cabimento; quando conveniente, ser flexível nas regras e no que espera deles; e diferenciar as coisas importantes para sua segurança e bem-estar, e as outras que são apenas questão de preferências e que, na verdade, não importam muito. PowerPoint presentation based on original version in English created by Tommy's Window (www.tommyswindow.com) ![]()
![]() William e Martha Heineman Pieper, Ph.D., reimpressão da web Todos os casais de vez em quando ficam bravos um com o outro na frente de seus filhos menores. Mas se você conseguir manter um ambiente razoavelmente agradável até poderem estar a sós, vão poupar seu filho de ter que lidar com complexidades de relacionamento para as quais ele ainda não tem maturidade. No entanto, se, apesar das suas boas intenções, começarem a discutir na frente do seu filho, parem a atitude hostil o mais rápido possível e tranqüilizem a criança dizendo, “Por favor, nos perdoe se o chateamos. Sabemos que você não gosta de nos ver brigar. Mamãe e papai se amam, mesmo quando brigam, e nós dois amamos você o tempo todo!” Existe uma noção popular, porém errônea que as coisas “desagradáveis da vida” fortalecem o caráter da criança e do jovem. Na realidade, a imaturidade das crianças as impede de se defenderem da dor emocional que sentem quando as coisas dão errado. Portanto, discussões entre os pais e outros acontecimentos dolorosos deixam as crianças mais — e não menos — vulneráveis ao estresse. Por outro lado, se no geral você protege o seu filho de experiências desagradáveis, principalmente da dor de presenciar uma briga entre os pais, com o tempo ele vai aprender a desenvolver uma atitude otimista em relação ao seu mundo e à sua capacidade de ter a harmonia e o amor que deseja e necessita. À medida que ficar mais velho essa visão lhe dará forças e flexibilidade para reagir de maneira eficaz aos desafios do cotidiano. Portanto, a próxima vez que forem ficar bravos na frente de um dos seus filhos, lembrem-se que aquilo que vocês consideram uma altercação normal, para ele é uma explosão nuclear, então contenham-se até estarem em particular. Vai ser mais fácil se perceberem que dessa maneira estarão cuidando do bemestar emocional do seu filho tanto quanto cuidam da sua saúde física ao mantê-lo longe da rua e do fogão. “Seja pronto para ouvir, porém deve demorar para falar e para ficar bravo.” ![]() Novos insights no desenvolvimento do cérebro afirmam o que muitos pais e cuidadores já sabem há anos: 1) bom cuidado pré-natal, 2) vínculos calorosos e amorosos entre crianças pequenas e adultos, e 3) estímulo positivo desde o nascimento afeta para o resto da vida o desenvolvimento da criança. Você alguma vez já olhou para um bebê e se indagou o que ele estaria pensando? Olha, a atividade cerebral dele é muito mais intensa do que se pensava. Segundo os mais recentes estudos nesse campo, o cérebro de um bebê está super ativo já muito antes do nascimento! Ao nascer, o cérebro do bebê aloja 100 bilhões de células nervosas. Imediatamente à medida que o bebê tem contato com o ambiente onde se encontra e cria vínculos com os que cuidam dele, vão se formando conexões – ou sinapses. Essa rede de neurónios e sinapses controlam diversas funções, como, por exemplo, de visão, audição e movimento. Se o cérebro da criança não for estimulado desde o nascimento, essas sinapses não se desenvolvem, o que invalida a sua capacidade de aprender e crescer. O impacto do ambiente no desenvolvimento do cérebro de uma criança é dramático e específico. Influencia não apenas a direção geral em que se dá o desenvolvimento, mas até o delicado circuito existente no cérebro. A maneira como o ser humano se desenvolve e aprende depende muitíssimo da herança genética, do ambiente, cuidado, estímulo e aprendizagem disponibilizados. O bebê que recebe atenção carinhosa e interativa desde cedo se desenvolve a olhos vistos. Esse fator é vital para um desenvolvimento saudável. O que isso significa para os pais? Coloque em prática estas quatro dicas. Vão ajudar a suprir por muitos anos um bom desenvolvimento do cérebro da criança e estabilidade emocional. 1. Seja caloroso, amoroso e interaja: Estudos mostram que crianças que recebem atenção interativa, ou seja, contato físico, embalo, conversas e sorrisos, têm mais facilidade em lidar com momentos difíceis depois que crescem. Elas se relacionam melhor com outras crianças e têm um desempenho escolar melhor do que crianças sem essa segurança afetiva. 2. Fale, leia e cante para seu filho: Comunicar-se com seu filho lhe proporciona uma base sólida para o aprendizado posteriormente. Converse e cante sobre os acontecimentos do dia. Leia histórias de maneira a incentivar um bebê maiorzinho e que está aprendendo a andar a participar e responder perguntas, apontar o que vê em um livro de gravuras, ou repetir rimas e refrões. 3. Estimule a exploração e brincadeiras seguras: Muitos de nós pensamos em aprendizagem como o ato de tomar conhecimento de fatos, no entanto as crianças aprendem através da brincadeira. Blocos, artes, quebra-cabeças e interpretação são algumas atividades que ajudam as crianças a desenvolverem curiosidade, confiança, a linguagem falada e a capacidade de resolver problemas. Deixe seu filho escolher as atividades. Se ele se afastar ou não demonstrar interesse, esqueça. Deixe ele “mexer com isso” depois, quando estiver interessado. 4. Use disciplina como uma oportunidade para ensinar: É normal as crianças colocarem à prova as regras e agirem impulsivamente de vez em quando. Os pais precisam determinar limites para as ajudarem, em vez de castigá-las. Por exemplo, informe a criança qual comportamento é aceitável e comunique a informação de forma positiva. Diga, “Por favor, o lugar dos pés é no chão”, em vez de “tire os pés da cadeira!” Elizabeth Montgomery, Pre-K Smarties
Nunca é cedo demais para o seu filho começar a ter contato com livros. Apesar dos bebês não conseguirem seguir uma trama ou entender um tema, o contato com livros é benéfico para eles. Além do convívio inevitável quando você segura o bebê no colo e fala com ele, a leitura também colabora muito para o desenvolvimento da fala. Bem antes do bebê dizer sua primeira palavra, está absorvendo os sons que, primeiro, contribuirão para o desenvolvimento da fala, e posteriormente da leitura. Os livros também estimulam a imaginação do bebê e o ajudam a entender as experiências que já teve e lhe apresentam novas situações. Ler para o seu bebê hoje promove bons hábitos de leitura no futuro. Pelo fato da criança responder principalmente aos sons da língua, os melhores livros para eles enfatizam ritmo, melodia e repetição, como, por exemplo, livros de rimas infantis e com uma linguagem padronizada. Ritmo, rima, repetição e seqüências de linguagem familiar prendem a atenção dos bebês. Livros para bebês normalmente têm pouquíssimo texto. As palavras freqüentemente servem de legendas ou rótulos para as gravuras. Bebês gostam de ver fotos de outras pessoas, principalmente de bebês. Eles reconhecem os traços e expressões faciais. Bebês e crianças pequenas adoram ver objetos que já conhecem, como, por exemplo, um ursinho de pelúcia ou um patinho de borracha, ou pessoas fazendo coisas que eles já vivenciaram no seu dia-a-dia, como, por exemplo, se vestir ou tomar banho. Os livros são instrumentos não apenas educativos e de desenvolvimento. Os bebês, semelhantemente aos adultos, se entretêm com livros. Pais e cuidadores de crianças constatam que os livros oferecem uma maneira muito eficiente de manter os bebês entretidos e felizes. Na realidade, começar a desfrutar de livros desde cedo ajudará a edificar um alicerce para o papel vital que eles desempenharão na educação formal da criança. ***** Nós colocamos as crianças em contato com a leitura tarde demais. Aos seis anos de idade a capacidade de assimilar fatos, quer pela audição (falados), quer visuais (escritos), sem o mínimo esforço, praticamente já se esgotou. … É mais fácil ensinar uma criança de cinco anos a ler, do que uma de seis. É mais fácil ensiná-la aos quatro, do que aos cinco, aos três, do que aos quatro, aos dois do que aos três, é mais fácil quando ela tem um ano de idade, do que dois, e ainda mais fácil antes da criança completar um ano. A grande verdade é que os bebês assimilam fatos diretos como, por exemplo, palavras escritas e faladas, em uma velocidade que nenhum adulto conseguiria. “Why Teach Your Baby to Read?” por Glenn Doman, fundador do Institutes for the Achievement of Human Potential. (Trechos) ![]() [Esta é uma pequena ficção publicada anteriormente em um seminário para educadores. Trata da influência positiva que os professores podem ter no futuro dos alunos. A lição também se aplica a pais e cuidadores de crianças.] O meu dia tinha sido longo e cansativo, algo normal para mim, o principal professor de matemática numa escola de segundo grau que, na época, era considerada moderna, na região leste de Londres. A maioria dos alunos naquele tipo de escola geralmente fazia cursos de trabalhos manuais, ou ofícios, o que hoje em dia se chamaria de curso profissionalizante, em vez de matérias acadêmicas. Seja como for, tinha alguns alunos que precisavam ficar para aulas de reforço toda quinta-feira por uma hora e meia depois do horário de saída, que terminava às quatro da tarde. Nesta semana em particular, eu estava de plantão. Eu, assim como os alunos, estava incomodado por ter que ficar além do horário. O professor de plantão é quem tinha que coordenar ou sugerir atividades enquanto eles ficavam nas carteiras. Sendo assim, os deixávamos fazer o que quisessem, dentro de um limite, já que geralmente não nos sentíamos na obrigação de trabalhar mais. Os professores mais conscienciosos colocavam sua correspondência em dia e coisas assim, mas a maioria de nós normalmente ficava sentado à mesa lendo o jornal. Como eu, a essa altura, já estava com a cabeça e os nervos sobrecarregados, me contentava em fazer palavras cruzadas ou ficar olhando pela janela. Naquele dia, estava admirando o por-do-sol. A cada quinze minutos ou algo assim, cumpria a minha obrigação de passar pelas carteiras e observar se os alunos não estavam aprontando alguma. Foi quando me deparei com Pamela Lumley. Ela tinha quinze anos. Com os cotovelos em cima de um livro de exercícios aberto, ela cobria o rosto com as mãos. Era minha aluna de matemática da oitava série, uma jovem trabalhadora que morava na periferia, em Bermondsey. Estava de castigo porque foi pega fumando no banheiro. — Tudo bem, Miss Lumley? — perguntei, não esperando uma resposta e nem querendo ser incomodado com uma. Ela olhou para cima com o nariz escorrendo e os olhos vermelhos. Era óbvio que tinha chorado. — Eu não consigo aprender — ela lamuriou com o típico sotaque nasalado da região onde morava. — Aprender o quê? — Isto aqui… — ela respondeu, apontando com uma unha suja para uma página cheia de números feitos a lápis, emoldurados por rabiscos de flores e outros desenhos no seu encardido livro, cheio de orelhas. No meio de tanto rabisco, decifrei que ela tentava resolver um problema de matemática. — É dever de casa — ela explicou, remexendo o cabelo pretinho feito carvão. Há muito eu tinha desistido dessa garota, e mal conferia seus exercícios, que dirá seu “devê” de casa, como ela dizia. Em alguns meses ela ia sair da escola mesmo, se formar e viver — assim eu presumia — às custas de algum programa da Previdência Social. Pelo que eu entendia, matemática e qualquer outra habilidade acadêmica simplesmente não era o talento da garota. — Olha, continue se esforçando, Miss Lumley, — eu disse, olhando para o meu relógio. — Ainda faltava uma hora e dez minutos. De repente, para surpresa dela e minha, sem pensar, peguei o livro de exercícios e voltei à minha mesa. Comecei a folhear aquela ilegível confusão matemática escrita a lápis, de autoria da torturada Pamela. Parei na página onde ela estava, ainda úmida por causa da lágrima que pingara e borrara as orientações. Você talvez ache fácil, considerando a minha eloquência, mas não sei como descrever o que senti naquele momento. Era como se o mundo de Pamela Lumley se tivesse desvendado para mim e todo rabisco que ela fizera com muito custo, usando aquele toco de lápis grudento, e formando uma tela de hieróglifos representando a sua vida em um pardieiro nos fundos de Bermondsey, com uma angustiada mãe divorciada que vivia à base de calmantes. Na ocasião, eu não teria descrito como sobrenatural o sentimento que tomou conta de mim. Mas agora estou convencido que foi exatamente isso. Não sei por que, mas senti tanta vontade de chorar que o meu coração doía. No entanto, Pamela, à sua carteira, me observava esperando uma reação. — Preciso tomar um pouco de ar — avisei, sem conseguir falar direito. — Mi-Miss Lu-Lumley, poderia, por favor monitorar a sala por um momento? — Ela ficou chocada, como o resto dos alunos, e eu também, com as minhas palavras. Seu rosto reluziu, e ela me agradeceu. Tranquei-me no banheiro, sentei e chorei. Não entendia, mas me sentia estúpido e vulnerável, mas ao mesmo tempo era uma sensação maravilhosa. Acho que fiquei ali uns dez minutos, filosofando em silêncio, tentando entender aquela emoção. Mas não cheguei a lugar nenhum com a minha análise, até que de repente, me veio um insight da minha pessoa: soberbo, cínico, sarcástico e perspicaz, e um intelectual detentor de uma sofisticada grande parcela de conhecimento. Não me senti muito bem com essa visão. Ficou fácil odiar minha atitude e, concluí tristemente, era fácil os outros fazerem o mesmo. No entanto, saí dali decidido a continuar com aquela emoção no coração. Evitando olhar no espelho, lavei o rosto e voltei à sala de aula. — Todos se comportaram, Miss Lumley? — perguntei sorrindo. — Ah, foram todos muito bonzinhos! — ela respondeu com uma risadinha marota. — Que bom! Por favor, venha até aqui e vamos dar uma olhada neste problema. Pamela ficou desconcertada. Parecia que ia começar a chorar de novo. Mas caminhou bravamente até à minha mesa. Eu lhe mostrei para puxar uma cadeira, e ela sentou-se ao meu lado. — Sinto muito, fessó, mas não vai adiantá nada me explicar. Eu num entendo. — A solução é bem simples — eu disse gentilmente. — Como se chama esta flor que você desenhou aqui? Os olhinhos de Pamela Lumley reluziram. — É uma campánula. Mas isso não tem nada a ver com o meu problema de matemática. — Eu sei. E esta aqui é obviamente uma flor de açafrão. — É mesmo. — E esta outra? — É um coração-de-maria, a favorita da minha mãe. Mas e daí…? — Esta aqui você desenhou várias vezes, mas depois rabiscou em cima. — Ah. É um cravo-de-amor, a flor que eu mais gosto. Mas não consigo desenhar direito. Tá vendo como são as pétalas? Balancei a cabeça. — Sabe, fessó, pra mim é difícil desenhar as pétalas da maioria das flores. O coração-de-maria é claro que é a mais fácil. Abrindo a gaveta da mesa e remexendo, encontrei um gabarito de formas geométricas. Expliquei que não era desenhista. — Mas me parece que o formato desta pétala é trapezóide. Está vendo? — É verdade. — E esta aqui é meio hexagonal, sabe, seis lados. E esta, sem dúvida é um rombo, um losango. — É mesmo. Olhando assim fica fácil entender. — Dá para ver que você ama flores, Miss Lumley. — Amo mesmo. Mas não tenho nenhuma. A minha casa não tem jardim. É escura. Virei algumas páginas no seu livro de exercícios e vi que ela tinha tentado fazer um desenho usando duas formas diferentes. — É mesmo. Minha mãe ia me dar um kit de bordado de aniversário. Ela ficou muito triste, porque não tinha dinheiro para isso. Mas não tem problema, eu entendo. Eu ia bordar uma toalhinha de mesa com cravos e coração-de-maria misturados, para dar pra ela de Natal. — Entendo. — Bem, fessó, depois que eu arrumar um emprego, depois que terminar os estudos, acho que vou conseguir comprar. — Ótimo, Miss Lumley. Pode voltar para a sua carteira. — Disse eu, reparando as risadinhas e sussurros entre os outros alunos. — Pode ficar com isto. Espero que a ajude no seu projeto. — disse ao lhe dar o gabarito com as formas, o qual ela aceitou com um grande sorriso, agradecendo. *** O último dia de aulas chegou. A maioria de nós estava animadíssimo com as seis semanas de férias. Mas, alguns dos alunos que não voltariam às aulas estavam um pouco ansiosos em pensar que iam ter que arranjar um emprego em tempo integral. Pamela era um deles. A sala de aula estava vazia. Eu trancava a minha gaveta naquele último dia, quando Pamela bateu no vidro da porta. Fiz sinal para que entrasse. Ela se aproximou com lágrimas nos olhos. — Eu queria me despedir, fessó. Brigada por tudo. Tudo? Desde aquele dia de aula de reforço eu tinha demonstrado apenas um mínimo de interesse pelo progresso evidente que ela fizera nos desenhos de flores, apenas meneando a cabeça quando passava pela sua carteira, onde ela deixa o gabarito de formas geométricas à vista e o livro de exercícios para eu conferir. Nós praticamente não nos falávamos, apenas trocávamos um sorriso ou um aceno de cabeça de vez em quando. — Até logo, Miss Lumley. Tudo de bom… boa sorte na carreira que for escolher. — Muito obrigada, fessó. Acho que consegui um emprego de caixa no supermercado. Pelo menos por agora. É bom porque vou ter que praticar bastante fazer contas! O silêncio era desconfortável. Olhei para minha valise semi-aberta. Tinha que seguir com a decisão que tomara aquela manhã. Tirei dali um embrulho de presente com um grande laço e o entreguei a Pamela. — Pode abrir agora, se quiser, ou esperar até chegar à casa. — Falei baixinho. Primeiro ela hesitou, mas deixando-se dominar pela curiosidade foi logo rasgando o papel. Ela ficou de queixo caído! Enquanto Pamela balançava a cabeça totalmente surpresa com o presente, expliquei: — Não sei por que, mas precisei de muita coragem para ir à loja de armarinhos explicar que precisava de um kit de bordado para uma “amiga”! — Mas fessó. Não precisava… — Talvez não, Miss Lumley. Pra dizer a verdade, eu comprei naquele mesmo fim de semana em que lhe expliquei sobre as formas geométricas. Mas nunca tive coragem de lhe entregar. Ficou aqui na minha gaveta este tempo todo. Acho que foi bem arriscado esperar até hoje, mas pensei em lhe dar se você viesse, por livre e espontánea vontade, se despedir. Mas acho que se não viesse eu enviaria pelo correio. Vi então aquele rosto branquelo e tenso se desmanchar em lágrimas. Demorou um pouco para Pamela conseguir falar de novo. — Muito obrigada mesmo, fessó. Eu nunca vou esquecer este presente. *** No ano seguinte, por causa de um problema de coração, o médico me aconselhou a sair de Londres. Fui trabalhar como vice-diretor de uma escola geral perto de Aberdeen, na Escócia, onde fiquei por vinte anos, até me aposentar aos sessenta e dois anos de idade. Até que vivi bastante, pensei, levando em consideração a previsão dos médicos. Seja como for, no meu último dia de trabalho, aconteceu uma “coincidência” bem estranha. Tinham feito uma despedida para mim em uma pub ali perto, onde, posso dizer com alegria, pude desfrutar do apreço sincero dos professores com quem trabalhei, e de alguns ex-alunos das duas últimas décadas. Tive que pedir licença e me retirar, de tão emocionado que fiquei, pois comecei a passar mal, igualzinho o que aconteceu um dia na escola na região leste de Londres. Edith Standwell, uma das professoras mais jovens, me fez o grande favor de me levar para casa, um apartamento de um quarto em frente à praça da cidade. Ela queria ajudar. No início hesitei. Afinal, eu era um solteirão convicto. Mas mudei de ideia e aceitei a oferta. Ela então me acompanhou até o apartamento. Para minha surpresa, encontrei na caixa de correio um embrulho, que só fui abrir ao chegar lá em cima. Tinha um livro de capa dura e uma carta. Preocupada comigo, Edith Standwell me colocou sentado em uma poltrona confortável e ficou por ali atenta. Explicando onde estavam as coisas na cozinha, aceitei o chocolate quente que se ofereceu para fazer, e comecei a ler a carta. Caro Professor, O senhor talvez fique surpreso com esta carta, pois já se passaram vinte anos desde que nos vimos. Eu estava pensando que o senhor provavelmente vai se aposentar em breve. Olha, para ser sincera, desculpe eu ser tão direta, mas nem sei se ainda está vivo. Seja como for, voltei à minha antiga escola o outro dia e peguei o seu endereço com o Sr. Wills, o antigo professor de geografia, que agora é o diretor. Olha, queria lhe enviar um livro publicado recentemente sobre bordados e desenhos de flores, escrito por mim mesma (com muita ajuda de um editor, é claro, porque minha gramática continua deixando muito a desejar). Uma grande “contribuição” para a literatura, não acha? Pamela Lumley tem um bestseller na W. H. Smith, a maior rede de livrarias da Inglaterra! Seja como for, coloquei uma dedicação para o senhor, porque, afinal de contas, sem a sua ajuda este livro nunca teria existido. Curioso, fui olhar o livro e o nome — O Mundo Florido de Pamela Lumley, e abri na página da dedicatória. Mais uma vez senti aquela emoção, e sorri. …e a ele, um professor de matemática, que viu este mundo florido além dos meus garranchos e rabiscos, dedico este singelo livro. Pois sem o seu incentivo, ele jamais teria se tornado realidade, pelo que estou eternamente grata. - Pamela Lumley - História de Jeremy Spencer. © The Family International
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